A Escolha do Peixe

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Obtida, há cerca de 100 anos, para uma coleção de postais ilustrados sobre costumes portugueses, editada pela Agência Fotográfica de Propaganda Turística, com sede em Lisboa, a foto mostra-nos o trabalho da escolha de peixe que se fazia no local da primitiva lota, em plena praia e junto ao Largo dos Valentes depois designado Largo da Marinha.

Esse trabalho consistia em separar os exemplares maiores dos mais pequenos, no caso apartar as sardinhas das petingas ou os carapaus dos pelins que ainda não tinham a alcunha de “jaquinzinhos”, ou seja o chamado peixe miúdo que as velhas artes de pesca denominadas “armações à valenciana” pescavam, diariamente e em abundância, em lugares fixos na baía e ao longo do litoral. Era uma tarefa que ocupava grande número de pessoas, que iam enchendo com os peixes maiores as canastras, que estão bem visíveis sobre a areia, e eram então os meios de acondicionamento mais usados para o seu transporte.

Transporte que começava na praia, de onde as canastras saíam na garupa dos burros até ao “aterro” ou “largo das carroças” (hoje Largo dos Bombeiros Voluntários), o qual era assim nomeado por ser o lugar onde estacionavam as “camionetas” da época, que eram aqueles antigos veículos de tração animal. Mudando dos burros para as carroças o pescado seguia depois, através da estrada nacional, até ao Seixal em cujo cais embarcavam rumo a Lisboa onde era leiloado no grande mercado abastecedor da “Ribeira Nova”.

As petingas e os pelins, que nesse tempo não tinham limitação de tamanho para a sua captura, eram peixes apenas consumidos localmente por não obterem valores significativos nos mercados externos. Comidos habitualmente fritos tinham, tal como ainda hoje, certa predominância na satisfação gustativa dos sesimbrenses.

António Reis Marques
in Sesimbr’Acontece de Julho de 2013