A Arte da Chincha, um Património Vivo

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Do latim cinctulal – cinctum – cinger, que significa envolver, cingir e cercar, a arte da Chincha, é um dos mais antigos tipos de pesca historicamente documentados em Sesimbra, ininterruptamente praticados até aos nossos dias. Compondo-se por uma rede de arrasto para a praia, que termina em forma de saco, de acordo com o objetivo de reter todo o peixe capturado, data do século XIV a primeira referência à sua existência na costa portuguesa.

No que respeita a Sesimbra, é do ano de 1462 o primeiro documento que comprova a sua utilização nos areais da vila, reportando-se o mesmo à atribuição das verbas decorrentes da pesca das barcas e das chinchas a Joham Fogaça, comendador de Sesimbra e fidalgo da Casa do Infante Dom Fernando, o qual transcrevemos parcialmente: «(…) vos faço saber que Joham Fogaça comendador de Cezimbra fidalgo da Casa do Ifante dom Fernando meu senhor me disse que requeria (…) todo o direito que o dicto Senhor ha de toda las barcas de pescas e chinchas e que vos lhe disserees que sem meu mandado lhe nom fariees. Porem vos mando da parte do dicto Senhor que lhe dees ou leixees tirar o trellado do dicto foral sobre o direito das dictas barcas e chinchas sem embargo que a elo ponhaes. (…)».

Tendo mantido as suas características originais ao longo dos séculos, uma das características únicas desta arte é o facto de não recorrer à tração animal ou mecânica, sendo, sobretudo, utilizada, para a captura de espécies típicas da costa, nomeadamente linguados, lulas, chocos, sargos e salmonetes, entre outras.

Atualmente praticada durante os meses de verão nas praias do Ouro e da Califórnia, a Chincha sesimbrense é um verdadeiro património vivo, sendo aceite pelos próprios pescadores que qualquer pessoa possa participar no arrasto da rede para a praia, recebendo uma parte, ou seja, um quinhão da pescaria. Tratando-se de uma arte de pesca tradicional única, a sua genuinidade e excecionalidade motivaram a inclusão na candidatura da Arrábida a Património Mundial, no critério correspondente a Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Andreia Filipa Conceição
in Sesimbr’Acontece de julho de 2012


Bibliografia:

PEDROSA, Fernando Gomes (2000) – Os Homens dos Descobrimentos e da Expansão Marítima. Pescadores, Marinheiros e Corsários
Câmara Municipal de Cascais.

PEDROSA, Fernando Gomes (1986) – “A Evolução das Artes de Pesca em Portugal”
Anais do Clube Militar Naval.

PEDROSA, Fernando Gomes (1985) – “Para a história da Pesca em Portugal”, In Anais do Clube Militar Naval, Vol. CXV.
Arquivo Municipal de Sesimbra, Livro do Tombo da Villa de Cezimbra e seu Termo, e Limite de Azeitam, fl. 117v.