O melhor pescador de Sesimbra

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Aos 82 anos, Álvaro Nero Francisco foi recentemente homenageado por ser o pescador de Sesimbra com mais tempo de actividade. Nascido numa família dedicada à arte piscatória, começou aos sete anos com o pai e aos 30 já tinha uma companha de 20 homens à sua responsabilidade.

«Certo dia chateei-me, mandei a companha toda embora e começei a ir ao mar sozinho», conta. Durante algum tempo saía para mar alto tendo apenas como companheiro um cão. «Eu era muito atrevido, mesmo muito», afirma, com um sorriso. «Às vezes o mar estava agitado, mas cheinho de chaputa, e eu via várias embarcações a sair e a regressar pouco depois», revela, acrescentando orgulhoso: «Eu nunca voltei para trás, nunca!». A sua técnica era a paciência. Havia dias em que demorava mais de oito horas para fazer um percurso de quatro. «Ia devagar mas chegava ao destino, ao passo que outros queriam ir à força, rebentavam com as embarcações e depois tinham de regressar», explica.

Com o passar dos anos, ganhou a fama de ser o melhor pescador de Sesimbra e certo dia, à boa maneira do futebol, recebeu uma proposta para ir trabalhar em Tenerife, onde acabou por ficar apenas dois meses. A coragem, a experiência e o facto de pescar mais peixe do que a maioria dos seus conterrâneos valeram-lhe a alcunha de “Bailhão”, nome pelo qual continua a ser conhecido na vila de Sesimbra. Sem falsas modéstias, e entre gargalhadas, explica o porquê: «Era por ser bom, por ser o melhor».

Pescador à moda antiga, habituou-se a reconhecer os melhores locais recorrendo às coordenadas dadas «pela rocha e pela Estrela do Norte». «O meu GPS está na cabeça», garante. Um dos locais onde mais pescava era o Mar da Estradinha. Para saber que tinha chegado bastava ver a Estrela do Norte por cima do Outão. Foi aí que um dia, com um antigo sócio, chegou a apanhar 25 peixes-agulha (espadartes) e atuns. «Saltámos da barca para a aiola e apanhámos peixes que tinham 80, 90, 100 quilos», recorda. «De outra vez, pesquei um peixe-agulha com 380 quilos», conta, apressando-se a dizer o nome de quem pode confirmar o feito.

Questionado sobre outras proezas, refere uma “saída” com outros colegas, que lhe valeu 500 chernes, e outra, sozinho, em que pescou 700 albacoras. «Eram tempos em que o peixe nem cabia no porão, tinha de vir cá em cima, quase a transbordar», relembra, nostálgico. Há 17 anos, comprou o Espadon, barco de oito metros onde ainda no ano passado fez grandes pescarias de corvina. O “bichinho” faz com que, 75 anos depois, o “Bailhão” continue a sentir-se com coragem para fazer aquilo que melhor sabe. Afinal, como dizem alguns mestres de Sesimbra, «Bailhão só há um, este e mais nenhum».