Os Ilhos

ilhos

Um pescador consertando as redes era uma imagem vulgar no quotidiano da vida sesimbrense. Todavia, a que a foto nos mostra é de um forasteiro que era conhecido por “ilho” ou “Ilhavo”, isto é, um pescador natural de Ilhavo trabalhando junto do porto de abrigo. Os “Ilhos” eram pescadores migrantes que, atraídos por melhores condições de trabalho, em mares calmos e férteis, vinham para Sesimbra onde permaneciam durante a primavera e o verão de cada ano.

Viam-se, habitualmente, nas águas abrigadas do porto de onde saíam para pescarem com covos ou redes de emalhar, nos seus barcos típicos, curiosamente também denominados de ilhavos. Eram embarcações parecidas com os saveiros, de formato alongado, boca aberta e fundo chato, proa e popa recurvadas em bico, tendo na vante uma tilha e geralmente tripuladas por dois homens que, para além das redes e demais apetrechos de pesca, traziam a bordo uma vela latina e respetivo mastro, leme, dois remos e um barril de água.

O barco servia-lhes de morada. Nele trabalhavam, comiam e dormiam, resguardando-se da chuva e do frio com um encerado que atravessavam em cima da borda à proa. Vinham à vila uma vez por semana para se abastecerem de alguns géneros de primeira necessidade, tendo numa ou noutra taberna o seu ponto de apoio, onde eram ajudados em qualquer problema e recebiam notícias dos familiares por carta ou telefone. Assim viviam, sóbria e isoladamente, até que, reunidos alguns proventos, regressavam à terra natal, aos seus lares, para descansarem junto das famílias que sustentavam, emigrando novamente a fim de juntarem mais algum dinheiro, em ciclos sazonais que se conheceram até à década de cinquenta do século XX.

António Reis Marques