A Salga e a Conservação de Pescado em Sesimbra, Uma Prática Milenar

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As necessidades decorrentes do escoamento de produtos alimentares para outras regiões, sempre que os mesmos excediam as necessidades da população local, levaram a que, desde tempos imemoriais, as comunidades humanas desenvolvessem métodos e técnicas que permitissem ao produto chegar ao destino em condições satisfatórias, não consistindo neste domínio, o pescado, excepção. Arqueologicamente comprovada, pela primeira vez, durante o período romano, através da identificação do complexo fabril da Avenida da Liberdade, a salga e a conservação de pescado são praticadas na vila de Sesimbra desde há, pelo menos, quatro milénios.

Ao nível documental, data de 1255 uma das mais antigas referências a esta actividade, sendo, a partir da Idade Média, a salmoura e a defumação as formas mais comuns de conservação, nomeadamente da sardinha e do atum. Ainda que menos comum, outra das formas utilizadas para conservar o pescado seria através da extracção de óleo da cabeça e dos intestinos do peixe, o qual seria utilizado para iluminação da casa dos pescadores, no fabrico de pão, como lubrificante, e na conservação de palheiros e de embarcações.

Efectuada nas casas dos pescadores, nas lojas, nas ruas e nas praças, o sal necessário para a conservação provinha das salinas do Sado, tendo o progressivo aumento desta prática levado à escassez do produto, a qual originou, em 1478, uma querela com Setúbal, resolvida em 1481 por sentença régia, no âmbito da qual os pescadores de Sesimbra
passaram a estar autorizados a salgar o seu peixe durante seis meses no ano, podendo os de Setúbal fazê-lo por igual período.

Durante o século XVI, parte do pescado conservado na vila tinha por objectivo o fornecimento de navios envolvidos na empresa da expansão Ultramarina, tendo, de acordo com os registos documentais, pelo menos, entre 1513 e 1536, sido abastecidas caravelas que partiram do porto de Sesimbra para Ceuta, Açores, Málaga e Mazagão, entre outros.

Actualmente praticadas em Sesimbra, de acordo com os métodos e técnicas tradicionais, a salga e a conservação podem ser observadas em algumas lojas de companha e armazéns da vila.

Andreia Conceição
in Sesimbr’Acontece de maio de 2011


Bibliografia

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